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Nossas Cinzas

Ontem, foi um dia lindo. Havia o frio, mas também estava ensolarado. Sob aquela luz, as flores dos jardins se exibiam com suas cores e delicadas gotas de orvalho. Manhã silenciosa.

No entanto, o dia realmente… era cinzento. Era mais um dia daqueles que passaríamos torcendo pelo seu fim e, as variações de humor no transcorrer das horas, fariam com que fosse mais ou menos torturante, o trajeto dos ponteiros.


Estamos, apesar das máscaras, vivendo em um constante luto e uma longa e demorada preocupação. As perdas de tudo que tivemos e de todos que já tivemos, são de valor incalculável. Sentimos que a qualquer instante, seremos abordados por um assaltante, que irá nos roubar o oxigênio, nos afogar em sangue, ferir nossos pulmões ou assassinar alguém que amamos.


Eu entendo o que esse vírus quer… além de apenas sobreviver à sua maneira, da qual ele não tem culpa ou consciência das conseqüências, também nos mostra quem somos por dentro. Ao nos depararmos com as possibilidades, fraudamos nossa humanidade com calúnias, com violências, antipatia, indiferença, desconfiança e a grotesca negação a nossa imagem que, narcisicamente, enxergamos sã e correta.


Será possível mesmo que essa criaturinha, microscópica, consiga fazer com que todos percebam aquilo que já estava óbvio? Que a humanidade é desumana e não se dá por empática sem que para isso não haja uma troca?


Eu não entendo, o por quê que pessoas que poderiam ajudar outras, insistem em sair por aí negando o que se vê, a troco de ideais que não são capazes de se provar e, ainda que o fizessem, não seriam motivos para não salvar vidas.


Infelizmente, todos os dias são cinzas ultimamente. Essa aparente infinda contaminação, revelou pessoas que por força do comodismo de suas rotinas, desenhavam comportamentos aceitáveis e hoje muito disso se apagou na próxima convivência do isolamento, cercados e protegidos por paredes, com os aumentos dos números das violências domésticas, das tentativas de acessos às vacinas sem ser do grupo de risco, mostrou que as classes ainda estão bem delineadas quanto a futura meritocracia conquistada por quem tem recursos e disponibilidades em relação a quem apenas tem a ignorância dos pais para estudar. Não há julgamento, mas uma exemplificação da falta de empatia, pois ao ler alguns trechos e identificar-se, cabe a você, olhar para o espelho e enxergar um lugar místico onde escorrega-se em arcos-íris e alimenta criaturas encantadas ou ver o próprio rosto, sem maquiagem, com deformidades, marcas, sinais de vida e reconhecer que é como outro, que depende de você, fazer sua parte e proteger a todos, assim como, se espera que façam o mesmo.


Há também os magníficos casos de pessoas que se uniram para levar as roupas, as comidas e os carinhos que passaram a faltar durante esse período. Onde a humanidade é representada pela união, do mesmo modo como foi feito há dez mil anos atrás, para que nossa espécie sobrevivesse. Não existe “Eu” sem o “Outro” e vice-versa, pois o que ele faz, decide e desenvolve, influencia a minha vida e o contrário também.


Sensibilizar-se com os sofrimentos alheios, mostra sua verdadeira natureza. Te ensina do que você é feito e também como agir. Negar isso é jogar fora que mais de 450 mil pessoas no Brasil morreram por essa mesma negligência. Torçamos para que essa doença seja controlada o quanto antes, mas primeiro, que a sanidade se apresente àqueles que dela carecem, para ajudar no processo, senão, continuemos a mascarar o cinzento dia, com os raios de sol sobre o orvalho de manhãs silenciosas e frias.


 
 
 

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©2020 por Robinson Silva.

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